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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CRÔNICA DE MINHA VIDA - crônica



CRÔNICA DE MINHA VIDA

Eram meados de 1975, Marabá-PA, eu apenas um menino de quatro anos, as margens do rio Tocantins no acampamento da Mendes Junior onde estava uma loucura, em minha pouca lembrança lembro-me de um bicho preguiça que vivia na cerca de nossa casa, minha mãe encorajava para  que eu o alimentasse com bananas e abacates, outra lembrança dessa época eram os passeios de barco naquele rio-mar, também me lembro de um igarapé que sempre enchia e fechava à estrada que ligava o acampamento à cidade, histórias de minha mãe com meu pai, pela seriedade de minha mãe e a irresponsabilidade de meu pai e suas noites boêmias, nessa época dona Conceição (minha mãe) sempre sentava comigo nos degráus da entrada da casa que morávamos, acho que pela solidão que vivíamos, pela distância e pelas dificuldades de comunicação com o Ceará, onde moravam nossos familiares, aprendi com ela a encarar a solidão como uma aliada criativa, lembro entre muitas coisas ditas por ela, uma das quais foi aprender a expressar sentimentos através de poesias e poemas, nessa época do Pará aprendi que a solidão poderia ser expressa em palavras e músicas.
Dona Conceição (minha mãe) era expressiva, espontânea e capaz de fazer o impossível em prol de sua razão, em 1976 já de volta a Fortaleza minha lembrança já muito clara de locais e acontecimentos, morávamos na rua trinta e cinco do conjunto polar, onde nasceu minha irmã, cinco anos eu reinei só ao lado de minha mãe, de repente aparecia alguém que roubara toda atenção que era minha, momento critico da vida de uma criança de cinco anos, minha mãe mais uma vez soube me amparar e me fazer seguir entre dúvidas e medos, a solidão que eu sentia chamava-se ciúmes, ela com seu jeito capaz e sempre atento serviu de ilha para meu barco à deriva. O ano de 1980 foi terrível, ela e meu pai já não conseguiam passar um dia sem discutirem, era um sábado primeiro de novembro, ela me pediu pra fazer umas compras no mercado, lembro-me apenas que acordei com um grito de “cadê minha mãe”, ela tava do meu lado segurando minha mão e falando que eu não me preocupasse, “to aqui meu amor” foram às palavras perfeitas pra meus ouvidos, mais uma vez minha solidão era acompanhada por ela, mesmo com o braço quebrado e os olhos fechados, a segurança de sua companhia era certa naquele momento de dor. Em 1982 ela me chamou no quarto da casa que morávamos no conjunto Castelo Branco, disse “Meu filho eu vou me separar de seu pai, mas quero que não tenha medo” embora meu pai ainda tenha acompanhado a gente até a mudança pra casa da Raimundo Gomes, nesse mesmo ano nasceria minha irmã mais nova, lembro com carinho dessa casa, das brincadeiras e da figura de Luiz José (véi), encontrei obstáculos e minha mãe me ensinou outra lição, recomeçar, foi assim que nossas vidas giraram num eixo de trezentos e sessenta gráus, finalmente em 1983 chegamos ao conjunto polar. A vida foi se anunciando de forma feliz e segura, a proteção de minha mãe era contestada por mim, queria eu sair e encontrar meu caminho, não entendia o porquê ela sempre fechava minha porta, mas o encontro com a vida era inevitável, aprendi a entender o não a falsidade e o encontro com erros, muitos mesmos, mas o mais impressionante era como minha mãe estava ali pra concertar comigo, parecia que adivinhava as minhas angústias e necessidades, assim foi minha vida entre altos e baixos, mas sempre com o colo pra curar minha sede e sua companhia pra minha solidão. Era 12 de outubro de 2010, o mal se espalhou de forma notória, como ultimo ato ela brincou no café da manhã, deu presente a mim e a minhas irmãs, depois já em precária situação fez questão de ir comemorar o dia das crianças fazendo seu ritual de 20 anos (distribuição de presentes com crianças pobres). Era 15 de outubro meio dia quando cheguei ao hospital pra visitar minha mãe, como sempre segurei sua mão e cantei ao seu ouvido, passei um breve momento e quando ia saindo fui chamado, eram meio dia e quarenta minutos, voltei segurei sua mão, sentir naquele momento o ultimo ato de minha companheira de vida, meu anjo partiu de volta ao encontro de sua celeste morada. Hoje 23 de setembro quase um ano se passou, a vida continuou, mas eu finalmente aprendi e entendi o que é solidão, a vida ganhou rumo e meu destino à deriva segue com a lembrança e a dor. Falta hoje entender a solidão e o sentido da palavra família, vou só e hoje realmente sozinho preciso entender a saudade dos vivos e dos mortos.

Artur Darlan Alves Cortez

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